O APAGÃO AÉREO DO GOVERNO LULA
O único brasileiro sem motivo de queixas contra as autoridades aeronáuticas é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A bordo do jato presidencial, pôde decolar incólume rumo às férias negadas a milhares de mortais comuns, driblando o suplício que, sabe-se agora, o corte de investimentos federais e a briga entre militares e civis impõem aos contribuintes. Como se tornou comum nas crises, o governo jura ter sido surpreendido. Disso não há dúvida: nada é mais eloqüente do que o olhar perdido do ministro da Defesa, Waldir Pires. Ou a decolagem do Airbus presidencial, privilégio visto de longe por quem sofria há horas.
O colapso aeroviário, finalmente reconhecido, é experimentado há mais de uma semana por passageiros em todo o país, perdidos nos terminais à espera de vôos com atrasos além do absurdo. A esses infelizes, nenhuma autoridade se sentiu obrigada a dar explicações concretas, só promessas vazias e esquivas.
Após o acidente com o Boeing da Gol, o controle aéreo foi responsabilizado por um dos envolvidos e a reação oficial foi ríspida. A acusação era uma "leviandade". A tragédia, no entanto, se desdobrou na calamidade que vivenciamos em todas as capitais. Então, se os controladores trabalhavam além do limite - como disseram para justificar o castigo imposto à população - quem é o leviano? Quem paga pelas horas de desconforto? Quem ressarcirá dezenas de compromissos profissionais de toda sorte atingidos? Quem será responsabilizado por dinamitar a credibilidade do sistema aéreo perante as associações internacionais?
A crise é o reconhecimento da falência de gerenciamento do setor. Idealizada para reduzir a militarização da malha aérea, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é uma nulidade. Uma sinecura para quem sonhava com as benesses do serviço público. Seus diretores se revezam em aparições desastrosas que só ajudam a aumentar a confusão.
Foi assim no atendimento descortês às famílias das vítimas do vôo 1907, na falta de coordenação com a operação de resgate da FAB, na incapacidade em dar informações claras ao público e, agora, na silenciosa omissão diante do desespero de passageiros abandonadas à própria sorte, às vezes por mais de 20 horas, sem chegar ao destino.
Se o presidente Lula disser que nada sabia sobre a gravidade do quadro, há documentos que o desmentirão. Há três anos se alerta para a carência de recursos necessários para dotar o sistema aeroportuário da capacidade de acompanhar o crescimento da demanda, em explosivos 20% ao ano. A situação lembra o apagão energético no governo Fernando Henrique, quando o país, por falta de investimentos, foi obrigado a racionar a energia. E depois pagou a conta do prejuízo das empresas.
Viaja-se como nunca e isso é bom. Mas falta muito. Num território de dimensões continentais como o Brasil, não ter uma aviação comercial à altura é um entrave ao desenvolvimento e um sinal de retrocesso - já que o país teve, depois da II Guerra Mundial, uma das maiores frotas aéreas do mundo. Os céus vazios, paralisados pela maior confusão já vista, são um diploma de incapacidade inconcebível.
Mas há do que se orgulhar. Graças à Infraero, responsável pela gerência dos aeroportos, os passageiros podem aguardar vôos atrasados dez, 12 horas, ou informações que não terão em bancos de plástico com design ultramoderno. Podem dormir no chão de granito nos elegantes salões projetados por arquitetos de renome. Podem comprar bugigangas em terminais feéricos como shopping centers. Se há uma lição na crise, é a de que a paciência do usuário acabou. Basta de incompetência.
FOTO: Beto Barata/AE
"DELENDA CARTAGO EST"
Marco Pórcio Catão (234 – 149 a.C.)
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