O maior e melhor dos governos
PAULO BROSSARD/ Jurista, ministro aposentado do STF
Ainda a propósito da louvação do presidente acerca do seu próprio governo, ocorre-me aditar apenas duas observações. Já se disse que, enquanto os transportes terrestres semeiam a civilização por onde passam, o aéreo faz ligações entre pontos longínquos; no entanto, ninguém duvida que ele é imprescindível, especialmente em país como o nosso, com suas imensas distâncias internas; de resto, como é óbvio, eles não se excluem, mas se completam. Era natural que os serviços de transporte aéreo crescessem com o Brasil e se tornaram internacionalmente conhecidos por suas dimensões e qualidade; no entanto, estava reservado "ao maior e melhor de todos os governos de todos os tempos" presidir sua maior crise e sua lesão mais grave, sem que uma providência governamental se tomasse antes, durante ou depois do desastre consumado. Contudo, não ficou nisso a omissão oficial. Mil interesses impessoais exigem serviços ancilares imprescindíveis ao regular funcionamento da atividade-fim. E eis senão quando a sociedade brasileira vem a saber que esses serviços, necessários, foram sendo sucateados pelo poder público a ponto de tornar-se ostensiva e alarmante a calamidade que, dominando o setor, ameaça a nação inteira. E assim "o maior e melhor de todos os governos" desde o de Tomé de Souza, mostrou o seu grau de incúria e de sua inépcia. Muito haveria a dizer a respeito, mas me limito a esse registro. Parece que " ao melhor de todos os governos" não bastou oficializar a insegurança das ruas e cuidou de levá-la aos ares em níveis jamais vistos. É o caos, na linguagem da imprensa, a intranqüilizar milhares e milhares de pessoas e comprometer o bom nome do país urbi et orbi.
Segundo a imprensa, "600 vôos atrasam no país num só dia" ou "revolta e quebra-quebra no pior dia do apagão aéreo", "colapso leva a FAB a intervir". Some-se a isso o estado das estradas federais e o descaso nos portos e ter-se-á o retrato acabado do "maior e melhor dos governos em todos os tempos" em terra, mar e ar!
Outra peculiaridade do governo petista foi ter dois ministros do Exterior , o oficial e o outro, e converter a idéia de alcançar um lugar no Conselho de Segurança da ONU em reivindicação nacional. Andou de ceca em meca e o resultado foi um fiasco. Mas não ficou nisso. Adotou a camaradagem como etiqueta ou como seu sucedâneo diplomático; introduziu nesse a irmandade, irmão para cá, irmão para lá. E o primeiro resultado pela intimidade fraterna foi desfechado pelo irmão boliviano, muy hermano. A Petrobras que o diga, quer dizer, o Itamaraty e o Brasil que o digam. E não se pense que tudo tenha terminado com a melancólica capitulação brasileira à astuciosa enjambração índia. Ou muito me engano, e quisera eu estar enganado, ou a novela recém começou.
Quando o Terror cortava cabeças em França, a despeito da "fraternidade" apregoada com a liberdade e a igualdade, o embaixador da Áustria, que era nada menos que Metternich, comentava espirituosamente que em Paris em vez de irmão era preferível ser primo. A cabeça ficava mais segura sobre os ombros. Mutatis mutandis, os "irmãos" do presidente já mostraram como são amigos...
Fico nesses dois fatos, em sua dura objetividade, para reafirmar que, infelizmente, nem só de benemerências para o Brasil foi "o maior e melhor de todos os governos havidos" desde Tomé de Souza.
Muito se falou em apagão energético, o apagão aéreo trouxe o caos. Faltava o apagão diplomático.
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Porto Alegre, 06 de novembro de 2006.
Edição nº 15050
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