Decodificando Gramsci

por Jorge Baptista Ribeiro em 24 de fevereiro de 2007

Resumo: Uma análise do livro "Eurocomunismo de Estado", de autoria do Secretário Geral do Partido Comunista Espanhol.

© 2007 MidiaSemMascara.org

Jornais e livros antigos registram fatos, hoje distorcidos pela fraudulenta reescrição da História. A falsificação objetiva apagar registros feitos ao pé de fatos históricos e negar o conhecimento de tudo aquilo que seja um óbice à absorção dos ingredientes ideológicos que, de modo pérfido, norteiam alguns novos livros (principalmente os didáticos das primeiras letras) e o noticioso da atual mídia falada, escrita e televisiva. Infelizmente, este desinformativo procedimento vem colhendo bons frutos nas plagas tupiniquins onde predominam a ignorância, a alienação, o populismo patrimonialista, a falta de patriotismo e a vocação para o atraso.

Mesmo sabendo que o assunto aqui ventilado é demasiada areia para o caminhãozinho de muita gente que só se importa com pão e circo e, para as coisas da Pátria, “tá nem aí”, insisto em apontar os caminhos ditados por uma diabólica estratégia que, onde fez escola, somente promoveu a decadência, cerceou a liberdade e violou a dignidade do povo. Diabólica, porque só maquinações do Diabo seriam capazes de semear o espírito das trevas que traz no seu bojo e conduz ao obscurantismo.

Em mais um grito de alerta, valho-me do excerto de um livro velho que contém premissas que trocam em miúdos as práticas a serem desenvolvidas pelos comunistas europeus. E não por acaso, faz muito tempo, também em curso no Brasil, mas lamentavelmente não percebidas por significativa parcela da nossa gente. Visam à dominação do pensar e o conseqüente agir das criaturas, de forma que, em uníssono, produzam e, de mãos beijadas, entreguem aos seus algozes as cordas com as quais serão amarradas, quando não enforcadas.

E quem disto duvidar, fique certo de que nos é fácil apontar extensa bibliografia e idôneos testemunhos que confirmam como alguns povos “comeram o pão que Satanás amassou com o rabo”, por caírem nas esparrelas da propaganda comunista que fomenta vãs esperanças, sonhos utópicos. Tais premissas operacionalizam a complexa estratégia preconizada pelo filósofo marxista italiano Antônio Gramsci para a tomada do poder político e a conseqüente implantação do totalitarismo comunista em um país alvo.

O livro velho, supramencionado, cujo resumo abaixo transcrevo em tradução literal, foi publicado em 1977, tendo como título “Eurocomunismo e Estado”. É de autoria do então Secretário Geral do Partido Comunista Espanhol, Santiago Carrillo que, decodificando Gramsci, assim se expressa:

“A estratégia das revoluções de hoje, nos países capitalistas desenvolvidos, tem que orientar-se no sentido de ganhar os aparatos ideológicos do Estado - e não destruí-los como prevê a doutrina leninista - para transformá-los e utilizá-los contra o poder do Estado do capital monopolista. Entre os aparatos ideológicos que atuam sobre a consciência humana estão os religiosos, os familiares, os jurídicos, os políticos, os de informação - imprensa escrita, rádio e televisão - e os culturais. A experiência moderna mostra que isso é possível. E aí está a chave para transformar o Estado por uma via democrática.

Atualmente a Universidade e os docentes se convertem com freqüência em focos de impugnação da sociedade capitalista graças ao nosso persistente trabalho.

A Universidade ocupa um lugar privilegiado na atividade das forças políticas revolucionárias. Não apenas pela grande concentração de massas jovens, disponíveis para a ação, como também por ser ali que se formam os quadros para integrarem os aparatos ideológicos da sociedade e onde se semeiam as idéias marxistas e progressistas com um dos meios mais eficazes para assegurar e ganhar, pelo menos parcialmente, esses aparatos. À medida que as novas gerações se incorporarem à profissão esse fenômeno se estenderá e a impugnação à justiça burguesa tradicional se fará mais amplamente.

Entre os aparatos ideológicos do Estado e da sociedade capitalista moderna estão os meios de comunicação: a televisão, o rádio e a imprensa escrita. Estas são hoje as armas ideológicas mais eficazes, porque penetram em todos os lugares, umas vezes de modo agressivo e outras de forma sutil, desempenhando um papel alienante e embrutecedor.

A condição previa é lutar por uma autêntica liberdade da cultura. O florescimento e a extensão da cultura são o terreno em que as idéias revolucionárias e progressistas podem firmar-se e influir cada vez mais decisivamente, na marcha da humanidade, penetrando e transformando os aparatos ideológicos da sociedade para as idéias revolucionárias.

A atitude que devemos adotar é, em substância, a luta pela conquista de posições, na medida do possível, nos aparatos ideológicos da sociedade, para as idéias revolucionárias.

Uma das grandes tarefas históricas atuais para a conquista do poder do Estado e seus componentes, pelas forças socialistas, é a luta determinada, resoluta, inteligente, para voltar contra as classes que estão no poder a arma da ideologia e, conseqüentemente, os aparatos ideológicos, pois nenhuma classe pode conservar o poder do Estado, se perde a hegemonia dos aparatos ideológicos.

Torna-se necessário que o Partido Comunista e todos os partidos que lutam pelo socialismo e, em geral as forças transformadoras da sociedade, assumam ante os aparatos coercitivos do Estado e seus componentes, um atitude distinta da que tem historicamente adotado. Quando há uma manifestação ou uma greve, não são os dirigentes do Banco do Estado que vão à rua enfrentar os grevistas ou os manifestantes. São as forças da ordem, a polícia e, em casos extremos, o Exército que o fazem. É esse papel que o poder do Estado do capital monopolista confere as Forças Armadas que devemos impugnar. Trata-se de lutar, por meios políticos e ideológicos, a fim de impor um novo conceito de ordem pública mais democrática e de levar esse conceito à mente dos componentes das forças da ordem.

É verdade que nós, comunistas, revisamos teses e fórmulas que em outros tempos eram artigos de fé. Mas não abandonaremos as idéias revolucionárias do marxismo: as noções de luta de classes, o materialismo histórico e o materialismo dialético. Não estamos retomando a social-democracia. Em primeiro lugar, porque não descartamos de nenhuma maneira a possibilidade de chegar ao poder revolucionariamente pelas armas, se as classes dominantes fecharem os caminhos democráticos e se surgir uma conjuntura em que essa via seja possível”.

Ao finalizar, lanço um desafio à sagacidade “sherloquiana” dos meus leitores:

Nas instruções de Santiago Carrillo identifiquem e respondam a quem interessam alguns irretorquíveis fatos que há bastante tempo, diante dos nossos olhos, sem reação duradoura e eficaz da sociedade anestesiada, vêm ocorrendo no Brasil, os quais a seguir enuncio:

1. Os meios, por mais cínicos e indecentes que sejam, sempre justificaram os fins;

2. A libertinagem na educação familiar, sob a capa da liberdade, e mediocrização do ensino complementar;

3. O aparelhamento dos postos-chave, tanto no Executivo, bem como no Legislativo e Judiciário;

4. As recentes medidas embromativas, tomadas pelo Congresso que apenas visam jogar água fria na fervura de uma sociedade apavorada com a insegurança pública;

5. O ministro da Justiça ser um ex-assaltante, adepto do terrorismo ou um ex-defensor de comunistas;

6. O afrouxamento das leis e códigos, além do relativismo da pródiga Justiça alternativa que, sob a fraudulenta máscara do “tudo pelo social”, é generosa para com os criminosos e rigorosa com as vítimas;

7. Aparelhamento da mídia, principalmente das editorias, com formadores de opinião que desinformam e sonegam informações;

8. Aparelhamento das universidades com mestres marxistas, além de incentivos e leniência com distúrbios de estudantes;

9. Contumaz menção de que a bala perdida, durante um combate da Polícia contra traficantes, em princípio, é originária das armas dos policiais;

10. Sistemáticas tentativas de achincalhamento, desaparelhamento e esvaziamento das Forças Armadas;

11. Condecorações de comunistas, notórios adversários das Forças Armadas, a pretexto da obtenção de seus favores políticos para a solução de problemas que afligem as Forças e seus integrantes;

12. Críticas do Presidente da República e de várias outras autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário, à comoção da sociedade, ocasionada pelo bárbaro assassinato de uma indefesa criança. Todos terceirizando a sua grande parcela de culpa no delito e se mostrando distantes do senso comum dos que desgovernam;

13. “Estelionato contra os cofres públicos pela via administrativa”, como definiu o ministro do Supremo Tribunal Federal - Gilmar Mendes - no seu parecer, sobre a Comissão de Anistia, a respeito de concessão de “indenizações avaliadas em milhões de reais, que constitui, certamente, uma inversão absoluta entre o interesse público e o privado”.

14. Predominância nas telinhas televisivas de entrevistados, escolhidos a dedo, favoráveis ao não endurecimento da legislação penal;

15. Ameaças à sociedade de que os Movimentos Sociais, transbordantes de dinheiro do mais que escorchado contribuinte, se insurgirão, mesmo que “Ali Babá” seja legalmente deposto, etc.

Muitíssimo mais teria para listar. Entretanto, como a esta altura deste escrito já estou acometido por náuseas, fico por aqui, deixando para os leitores de estômago mais forte a complementação desta lista.