Elogio à corrupção - 3
por Ipojuca Pontes em 19 de fevereiro de 2007
Resumo: Uma retomada da listagem do rol de nomes e instituições da vida nacional envolvidas em fraudes e episódios nebulosos, tudo ainda sem punição, é claro.
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Depois de necessária pausa, em que tratamos de assuntos mais prementes, retornamos ao rol de nomes e instituições da vida nacional envolvidas em fraudes, mamparras, mamatas ou privilégios, dignas do clamor público - e todas ainda infensas a qualquer tipo de punição . Vamos aos personagens:
Caso 1 - Maurício Marinho. Funcionário dos Correios pivô do escândalo que, em 2005, redundou na eclosão do universalmente conhecido Mensalão. O desenvolto funcionário foi filmado embolsando R$ 3 mil, gesto que obrigou o então deputado Roberto Jefferson, enfurecido com a ação do ex-chefe da Casa Civil, o "capitão do time" José Dirceu, denunciar a ação do governo no colossal processo de suborno político.
No vídeo, que virou uma espécie de cult movie da corrupção oficial, Marinho deixa transparecer a "capilaridade" da rede criminosa na qual, insinua, era apenas um grão de areia em meio ao deserto. Certo da impunidade, ele revelou com quem dividia o grosso do ervanário: "Eu tenho acesso direto ao presidente da empresa, ao partido e aos diretores".
Hoje: Maurício Marinho converteu-se à religião evangélica e, em Brasília, julga-se um homem feliz, usufruindo a vida que pediu a Deus. Semana passada, apontado como peça inicial do "escândalo que virou piada" (royalty para Delúbio), um seu familiar se mostrou indignado: "Tudo conversa. Ele (Maurício) jamais foi indiciado". O que é uma verdade.
Caso 2 - Paulo Okamotto. Generoso amigo de Lula desde tempos remotos. Ele foi vendedor de cerâmica, funcionário da Wolkswagen, tesoureiro e depois presidente estadual do Partido dos Trabalhadores. Em depoimento à CPI dos Bingos, Okamotto não conseguiu explicar a origem do dinheiro com que pagou uma dívida de Lula ao próprio PT, durante a campanha eleitoral de 2002, na ordem de R$ 29 mil. Melhor ainda: em abril de 2002, Okamotto pagou débito de Lurian, filha do bom amigo Luiz Inácio Lula da Silva, em torno de R$ 26 mil, numa operação para saldar dívida de campanha eleitoral de Lurian, então candidata derrotada ao cargo de vereadora em São Bernardo do Campo.
Em que pese forte pressão da CPI, o bom amigo Okamotto teve a quebra do seu sigilo bancário negada pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, um tipo obcecado por cargos políticos de expressão. Com a quebra, é evidente, seria possível esclarecer a origem dos enigmáticos recursos que saldaram tão alopradas dívidas.
Hoje: Paulo Okamotto foi reconduzido por Lula ao cargo de Presidente do Sebrae, guarda-chuva oficial para "apoio às micro e pequenas empresas", com salário de R$ 25 mil. Anda sorridente, já arrisca entrevistas laudatórias em cadeias públicas de televisão e em data recente foi recebido no Planalto, onde foi efusivamente cumprimentado pelo Líder Máximo.
Caso 3 - Fábio Luís Lula da Silva. O filho do presidente Lula que, em menos de dois anos, passou de monitor do Zoológico de São Paulo, com salário de R$ 600,00, para empresário bem-sucedido no ramo da informática. Ao lado de Kalil Bittar, filho de Jacó Bittar, fundador do PT e velho companheiro de Lula, Luís Fábio se associou a Gamecorp, produtora de games que recebeu substancial aporte financeiro da Telemar (empresa concessionária de serviços públicos, com dinheiro do Estado na composição do seu capital) na ordem de 5,2 mílhões de reais. Mais do que isso, segundo levantamento da revista Veja, edição de 25/10/2006, Luís Fábio tornou-se lobista da empresa de telefonia, abrindo as portas do poder em Brasília.
Diante de insinuações de tráfico de influência, Lula, que considera Lulinha como uma espécie de Ronaldinho da informática, foi definitivo ao rebatê-las durante uma entrevista de televisão, em 2006: "Se alguém souber de alguma coisa que meu filho tenha cometido de errado, é simples: o meu filho está subordinado à mesma constituição a que eu estou".
Hoje: apresentando fora do prazo o balanço da empresa referente ao exercício de 2005, que contabiliza prejuízos operacionais na ordem de R$ 690 mil, Lulinha continua firme à frente da Gamecorp. A razão do tropeço é que a empresa do "Ronaldinho da informática", segundo o balanço, gastou mais com as elevadas despesas burocráticas do que o próprio objeto do negócio.
Caso 4 - Rogério Buratti. Personagem fascinante e múltiplo, digno de figurar nos relatos das Mil e Uma Noites. Secretário da prefeitura de Ribeirão Preto na gestão de Antonio Palocci, em 2001, era agente ativo da Máfia do Lixo, que recebia propina da Leão&Leão, empresa prestadora de serviço conivente com o esquema de superfaturamento em contrato municipal de coleta do lixo. Acossado pelo isolamento a que foi submetido, Buratti terminou por denunciar o ex-trotskista Palocci, já então poderoso ministro da Fazenda, como beneficiário dos recursos da Leão&Leão, na ordem de R$ 50 mil mensais.
Mas o diligente Buratti não ficou por aí. Em Brasília, além de se envolver com o suposto esquema que infiltrou de Cuba U$ 3 milhões para a campanha eleitoral de 2002, foi acusado de assessorar a intermediação de contrato de R$ 650 milhões, considerado lesivo, entre a Caixa Econômica e a Gtech, empresa americana voltada para a operação do controle de redes lotéricas e de jogos eletrônicos.
Hoje: depois da devastadora denúncia do caseiro Francenildo, que terminou por detonar a República de Ribeirão Preto, um ponto de negócios e prazeres localizado num casarão de luxo no Lago Sul de Brasília, Buratti se mudou para Belo Horizonte, Minas, onde vive livre, leve e solto - em lua de mel com a nova esposa.
Ia apontar mais alguns nomes e casos da "nossa" vida política, ainda impunes, mas acabou o espaço. Fica para depois.
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