O Exército de sempre
O Exército de sempre |
20 de fevereiro de 2007 | ||
A esquerda revanchista, quer integre o governo petista ou não, quando se refere ao Exército e seu relacionamento com ele, costuma dizer que “o Exército de hoje é muito diferente do de ontem”. O âmago da frase é uma espécie de justificativa do convívio cordial com a gente castrense. Claro que o de ontem, para eles, é o que os combateu e o de hoje é o que, desarmado de espírito, crente na reconciliação dos brasileiros, foi ao extremo de condecorar o ex-guerrilheiro José Genoino com a Medalha do Pacificador, dada com parcimônia e que lembra o nosso patrono, o Duque de Caxias, que jamais humilhou vencidos. O nosso maior general, capaz de comandar ofensivas com viés napoleônico, serviu ao Império com lealdade e desambição, seja debelando rebeliões no território nacional, seja na guerra contra o Paraguai do tirano Solano López. Paralelamente, no mesmo século as colônias hispânicas e seus vice-reinados foram libertados pelo general San Martín, argentino, e pelo general Bolívar. Muitos dos oficiais que os seguiram se transformaram em ditadores, no que veio a ser a imagem do caudilho sul-americano. Caxias, se fosse do mesmo naipe, teria sido o ditador brasileiro, e não o poderoso comandante do Exército, que teria liquidado a Monarquia. Ao contrário, sua lealdade ao imperador foi total, mesmo quando sofreu ingratidões do próprio monarca. A Proclamação da República teve no marechal Deodoro da Fonseca o interveniente decisivo, levado a voltar-se contra dom Pedro II, que ele tanto respeitava, por circunstância que lembra a definição de imperativo categórico. Diferente de Benjamim Constant e dos líderes civis que conspiravam contra a Monarquia, não era republicano. Foi o desastroso comportamento do Gabinete Ouro Preto o grande responsável pelas crises, a da Igreja e a dos militares. Foi Deodoro, o líder que cimentara a sua reputação na luta pelo Brasil, levado pela defesa da dignidade do Exército, que acabou tendo a missão de derrubar o Gabinete e, em conseqüência, a Monarquia. Logo deixou a Presidência da República, que Floriano Peixoto consolidou, passando-a depois aos ilustres presidentes civis que tivemos, enquanto prosperava a ditadura pessoal e por vezes duradoura dos generais sul-americanos. Em 1964, só por conveniência hipócrita, os que chamam de golpe militar fingem esquecer que até um comunista respeitável o chama de golpe preventivo. O adjetivo diz tudo, e mais ainda quando a expressão é precedida de “pré-revolução”, a caracterizar a ameaça dos revolucionários, quer os marxistas-leninistas, quer os nacionalistas obcecados pelo antiamericanismo, quer, ainda, pela ambição do fronteiriço político a explorar os “pelegos” que sonhavam com uma cópia carbono do regime peronista. Pela primeira vez, os militares brasileiros assumiram diretamente o poder, não por ambição de mando, mas para nos defenderem da expansão do Movimento Comunista, que já se estendia do Rio Elba, na Alemanha derrotada em 1945, ao Caribe, na Ilha de Cuba, já dominados a China de Mao Tsé-tung, o Vietnã e a África, de que os comunistas aproveitaram as justas guerras de descolonização. Esse fato histórico, de nossos dias, as esquerdas brasileiras - com as exceções do estilo - tudo fazem para esconder, ou seja, a existência da guerra fria, dividido ideologicamente o mundo entre comunismo e anticomunismo. Ou se tomava um partido ou o outro. As Forças Armadas, pela quase unanimidade dos seus quadros, ficaram ao lado do justamente chamado mundo livre. Adestrados na China, ainda no governo João Goulart, comunistas brasileiros rompidos com a atuação soviética de Kruchev de coexistência pacífica com os Estados Unidos, buscaram o apoio de Mao e foram ser treinados para matar os brasileiros que a eles se opunham. Depois, Fidel Castro, que ficara ao lado da União Soviética, pretendeu, seguindo ordens de Moscou, ser a ponta-de-lança do comunismo na América do Sul. Treinou os guerrilheiros que, desde 1967, lançaram a luta armada fratricida e até financiou uma das guerrilhas pelos dólares soviéticos, via Cuba. Outras guerrilhas, até anteriores às brasileiras, atuavam nos países andinos. Coube, então, às Forças Armadas combater os insurgentes, que se mascaravam de defensores da democracia. Aarão Reis, então um estudante universitário em Minas, participou da luta armada, cooptado pelos comunistas, divididos em múltiplas facções. Foi preso e exilado. Em livro por ele publicado, teve a dignidade de desmentir a patranha dos “libertários que lutavam contra a ditadura”. Escreveu e confirmou em entrevista que não lutavam por democracia, mas pela ditadura do proletariado, já que eram marxistas e leninistas convictos e, pois, partidários do regime de partido único, do modelo soviético. Os militares, de ontem, tiveram de cumprir a missão de vencê-los, na guerrilha urbana, inicialmente, e na rural, posteriormente. Cerca de 200 mortos regaram o solo da Pátria, enfrentando-os. Ainda hoje há valorosos combatentes que estão mutilados pela bomba que explodiu no Aeroporto de Guararapes, do Recife. Afora os cinco que foram mortos pela sanha assassina dos terroristas. Voltaram a matar, covardemente, um soldado sentinela do quartel do II Exército, de São Paulo, o corpo esfacelado pela explosão de um carro-bomba lançado contra o quartel. Não se trata dos suicidas do Médio Oriente. Fanáticos, mas ofereceram a própria vida para levar com eles a das vítimas. Se os esquerdistas que dividem o Exército de hoje e o de ontem pretenderem repetir os comunistas de ontem, perguntem se hoje seria diferente do Exército de ontem, na defesa da Pátria. Experimentem. (*) Jarbas Passarinho, ex-presidente da Fundação Milton Campos, foi senador pelo Estado do Pará e ministro de Estado |
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