De um crime ninguém pode acusar o presidente Lula: a de não ter avisado a que vinha.
Crônica de um golpe anunciado
por Marli Nogueira em 28 de setembro de 2005
Resumo: De um crime ninguém pode acusar o presidente Lula: a de não ter avisado a que vinha.
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Que ninguém invoque inocência ou surpresa acerca das maracutaias, das falcatruas, da falta de caráter, da incompetência e do desejo totalitarista que emergem do lodaçal fétido em que chafurda o PT.
Quem assistiu ao primeiro discurso de Lula como presidente eleito, na Avenida Paulista, há de reconhecer que ele avisou a que viria. Naquele dia, o eleito se deixou arrebatar pelo animus domini que desde sempre habita os corações da maioria dos petistas, com a certeza de que o PT, seguindo à risca o plano macabro de tomada do poder, nele permaneceria no mínimo por tanto tempo quanto o que levou para chegar lá. E deixou escapar o ato falho.
Do alto do palanque, encarnando o espírito do velho caudilho latino-americano, Lula soltou a voz rouca e exclamou, entre piegas e ameaçador: "Aconteça o que acontecer, vocês serão a minha referência!". Está lá. Ao vivo e em cores. É só ver a fita, que, com a euforia do que parecia ser a realização do sonho de uma vitória "democrática", muitos devem ter gravado para a posteridade. Ou, então, ler a íntegra do discurso - cheio de promessas não cumpridas - em vários sites da Internet.
Como sei que um alerta dessa natureza somente é disparado quando já existe uma oculta intenção de praticar atos que possam decepcionar os interlocutores, naquele momento disse cá, com os meus botões: "Aí tem coisa!"
Não deu outra. Logo em seguida começou a visível formação de uma reserva financeira para o partido, de proporções nunca vistas. Com que objetivo? Para, com o apoio de Fidel e de Chávez, e em conformidade com as diretrizes do Foro de São Paulo, bancar a sua própria revolução em toda a América Latina e se perpetuar no poder, ainda que isso significasse o sacrifício de milhões de brasileiros. E para tanto, é claro, valia tudo: desde cortes inexplicáveis no orçamento das diversas instituições federais, até empréstimos a países estrangeiros muy amigos, perdão das dívidas de outros, independentemente do grau de amizade, além de doações suspeitíssimas para o MST. O problema é que jamais poderemos saber se os milhões cortados do orçamento serviram mesmo para a formação de superávit primário na mesmíssima proporção, se outros tantos milhões emprestados a países vizinhos se materializarão realmente nas obras alegadas e se o dinheiro foi efetivamente parar, em sua totalidade, nas mãos do MST, entidade que sequer possui personalidade jurídica própria que lhe permita receber doações financeiras de qualquer origem.
Diante de todo o quadro de esbanjamento, de corrupção e de lavagem de dinheiro público que se evidenciaram ao longo das investigações promovidas pelo Congresso Nacional, é mais do que razoável imaginar que o governo não está minimamente preocupado com as classes mais pobres, que, para ele, ao invés de emprego, de escolas e de hospitais, podem viver apenas de discursos, de bravatas e de palavras de ordem.
Mas não é só. Não satisfeitos em fazer caixa para a sua revolução castro-chavista-marxista, Lula e sua trupe passaram a adotar medidas nitidamente antidemocráticas para garanti-la, ao mesmo tempo em que tratava de manter a sociedade sob seu tacão, promovendo o controle do Executivo sobre o Judiciário (CNJ) e sobre o Legislativo (compra de parlamentares), as alianças com países que nada têm a ver com nossa tradição diplomática, além das tentativas totalitaristas de cala-boca da imprensa (Conselho Nacional de Jornalismo), de direcionamento da cultura (Ancinav) e de adoção da novilíngua tupiniquim (cartilha do politicamente correto). Que "democracia", hein!
Juntando as peças desse quebra-cabeças, fica mais do que evidente que o PT estava armando, desde a campanha eleitoral, um esquema gigantesco de assalto aos cofres públicos para poder financiar o delírio marxista. E, já eleito, tratou logo de aumentar o incentivo à sua força militar oficiosa, o MST, em suas marchas e invasões, permitindo-lhe com isso um treinamento logístico e operacional cuja eficiência ficou mais do que comprovada com a marcha de Goiânia para Brasília em 15 de maio deste ano. E ao mesmo tempo, ainda criou a sua própria força militar oficial (Força Nacional), um tertium genus inadmissível em um Estado que já conta com instituições mais do que suficientes - mas adredemente desprezadas - para a garantia da defesa nacional (Forças Armadas) e da ordem pública (Polícias Militares).
Depois de tais constatações, a primeira conclusão cabível para o aviso do "aconteça o que acontecer" é que Lula tinha conhecimento, sim, da elaboração do magno projeto de poder liderado pelo Foro de São Paulo (de que é um dos fundadores) e das maracutaias necessárias para alcançá-lo, e que, por isso, ao fazer sua advertência à multidão que o aplaudia em plena Avenida Paulista, sabia perfeitamente bem o que estava dizendo. A segunda é que, ao contrário do juramento então firmado, sua referência nunca foi, não é, e jamais será o povo brasileiro. Sua referência é ele próprio e o partido revolucionário que o rodeia.
Mas de um crime ninguém pode acusar Sua Excelência: a de não ter avisado a que vinha. O golpe, metaforicamente chamado de "aconteça o que acontecer", foi anunciado naquele dia 28 de outubro de 2002.
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