A desinformatzya cabocla

A desinformatzya cabocla
por Agnaldo Del Nero Augusto em 14 de abril de 2006

Resumo: Não venham com a história de que a campanha só começa em junho/julho.

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A composição da “troika”, montada para a elaboração do tal “Relatório Paralelo”, me fez lembrar da “Operação Thomas Mann”, conduzida por Ladislav Bittman, chefe da sessão de espionagem tcheca, que atuava pela KGB no Brasil em 1964. Sabe-se hoje, que a versão deturpada da ingerência norte-americana na Contra-Revolução de 1964 foi ampliada e orquestrada por meio de documentos forjados por essa operação. Você tinha notícia dela?

O ocidente tomou conhecimento dessa farsa em 1985, pelo próprio Bittman. Em agosto de 1968, em seguida à invasão da Tcheco-Eslováquia pelas forças do Pacto de Varsóvia, Bittman atravessou a fronteira da Alemanha Ocidental e pediu asilo às autoridades americanas. Revelou esses fatos no livro “The KGB and Soviet Disinformation” publicado em Washington. Apesar dessa operação ter sido revelada em detalhes nesse livro, a imprensa “livre” do Brasil, até bem pouco, nada publicou a respeito da revelação nele contida. Apesar dessa versão ter sido desmascarada, não somente com base no citado livro, até hoje muitos inocentes, ignorantes preguiçosos e mesmo pessoas que pelas funções que ocupam deveriam buscar conhecer a verdade dos fatos, têm dúvida sobre a versão por ela veiculada. Com essa explanação, queremos enfatizar a força de versões distorcidas dos fatos.

O papel da desinformatsya é conhecido na estratégia da antiga URSS, mas não há um termo em português que expresse com precisão o seu sentido. É vagamente traduzida como desinformação, uma palavra que sequer existe nos nossos dicionários, pois não significa falta de informação. Na Grande Enciclopédia Soviética é definida como a disseminação de informações falsas, com a intenção de iludir a opinião pública. É omissão, falsa informação e manipulação. Na verdade, é um pouco de cada uma dessas coisas. Recobre um conjunto de atividades intercambiáveis. É sobretudo uma arma política. Na desinformatzya cabocla, a manipulação impera mas tem sido uma arma muito eficaz a mentira despudorada, aduzindo-se a invasão de privacidade, (violação de sigilo bancário e devassa da vida privada) numa prática eminentemente stalinista, a ocultação ou bloqueio de testemunhas, a “pizza”, a chantagem. Na verdade, um vale tudo e por último a diversão, por meio da disseminação de um fantasioso “golpe das elites”.

Aliás, uma coisa que eu queria saber é onde anda a elite deste País? Onde estão os jovens estudantes idealistas, os caras-pintadas? Se estivessem vivos, já teriam mostrado de forma mais efetiva sua indignação, o seu desgosto e manifestado sua perplexidade.

Porém, nem tudo, ainda, está perdido. A oposição no Congresso, onde seu posicionamento tem maior visibilidade, assumiu as suas responsabilidades, diga-se de passagem, com coragem, quando algumas lideranças despontaram. Ao contrário de um setor seu, que quando surgiram denúncias de corrupção sistêmica fez de conta que não sabia de nada, para preservar o presidente Lula, que também fingia não saber de nada, encobrindo sua responsabilidade como se nada lhe dissesse respeito. Essa tremenda omissão choca particularmente a nós militares porque, em nossas unidades, o comandante é responsável pelo que acontece ou deixa de acontecer na sua organização. Isto é, pelo que faz e pelo que deixa de fazer, na esfera de suas atribuições.

Também a imprensa, que esteve há pouco ameaçada por projetos de cerceamento de sua liberdade, vem cumprindo o seu papel e pelo menos o reduzido contingente que lê, sabe o que está acontecendo. Todas as mazelas desse governo estão sendo vistas e podem ser julgadas. Sabe, pelo menos, que o PT no governo está fazendo exatamente o contrário do que apregoou durante décadas. Sabe que foi montado neste país, o maior sistema de corrupção de que se tem notícia.

Percebe-se a reação, ainda que tênue, em outros setores da sociedade. Pode-se citar como exemplo a OAB. Mas mesmo esses, na sua maioria, parecem não se aperceber de que o PT foi se apoderando progressiva e perigosamente do aparelho de Estado, reproduzindo prática verificada nos países que implantaram o socialismo real, que é o nome de fachada de um dos mais cruéis comunismos, pois acreditam que este acabou com o desmantelamento da URSS. Se esse bando continuar no poder por mais tempo e a sociedade aperceber-se então, tardiamente, de que os rumos tomados pelo país não é o de sua aspiração, pelo contrário lhe repugna e quiser reagir, a correção, desta vez, não será pacífica. Um outro dia demonstraremos porquê.

Como ensinou J F Revel “a democracia é esse regime paradoxal em que oferece, aos que queiram aboli-la, a possibilidade única de preparar-se para isso na legalidade, com a garantia do direito”. Diz mais: “A democracia inclina-se a ignorar ou mesmo a negar as ameaças de que é objeto. E só desperta quando o perigo se torna mortal, iminente, evidente. Mas, então, ou falta-lhe tempo para poder conjurá-lo, ou o preço a pagar pela sobrevivência torna-se insuportável”.

Felizmente, ainda temos tempo de sobreviver sem maiores sofrimentos. A democracia oferece um instrumento eficaz para a crise, para afastar essa corja do poder: o sistema democrático da escolha pelo voto. Para isso, os que lêem devem tomar como dever cívico, esclarecer os que não lêem, e os ditos partidos, sair da letargia, da apatia profunda em que se encontram. Não venham com a história de que a campanha só começa em junho/julho. Há muito poderiam propagar que alternativas têm para apresentar, que Projeto de Brasil têm a oferecer.

Vamos todos batalhar democraticamente, enquanto isso é possível.