Sai daí, Waldir!
Há a máxima, que me parece fazer sentido, de que acidentes aéreos acontecem em razão da conjugação de fatores e tal. Eu, que não estudei Direito com Rogério Cezar de Cerqueira Leite, continuo a achar que aviões caem porque não são aves e são mais pesados do que o ar... É o motivo ontológico. E se o transponder do Legacy estivesse funcionando? Mas não foi só isso! E se a torre tivesse reagido mais rapidamente? Mas não foi só isso! E se a orientação dos 37 mil pés tivesse sido detalhada? Mas não foi só isso! E se os pilotos tivessem seguido o plano de vôo? Mas não foi só isso! De todo modo, uma coisa é certa: o sistema brasileiro falhou miseravelmente.
A falha fez estourar uma crise no setor. A precariedade de equipamentos, a falta de pessoal, a sobrecarga de trabalho, nada disso pode ser a causa imediata do acidente, mas parece evidente que o país voava em condições mais precárias do que jamais imaginou. A contratação de controladores de vôo em caráter emergencial o prova. Reparem que não estamos falando, sei lá, em auditores da Receita — o que, certamente, nunca faltará. Mas daqueles que respondem, em boa parte, pelo fato de embarcarmos num lugar e chegarmos vivos a outro. O setor é a prova viva de várias incompetências do governo Lula.
O acidente, sozinho, já bastaria para jogar a sombra de suspeição. Quando os controladores passaram a aplicar as chamadas normas de segurança a seu trabalho — ainda que esteja havendo, é certo, um tanto de má vontade —, descobriu-se que o país voava muito acima das suas asas, da sua competência, da sua infra-estrutura, do seu pessoal para tanto preparado. Justo o Brasil! Já nem precisamos ficar no simbolismo de Santo Dummont. Basta lembrar a competentíssima Embraer — personagem involuntária da crise, já que fabricante do Legacy, um avião resistente..
Com a temperatura chegando ao ponta da incandescência, aproximou-se da cena, perigosamente, aspergindo querosene pelas ventas, este inacreditável Waldir Pires, ministro da Defesa. Qualquer grupo ou gabinete de gerenciamento de crises sugeriria o óbvio: responde-se ao problema mais imediato e não se cria uma segunda demanda, esta estrutural, para se combinar com a primeira, de emergência. É assim que se faz: tanto na ordem como na desordem; tanto na paz como na guerra. Ah, não segundo a lógica perturbada deste senhor.
Pires cismou, no meio do furacão, que era hora de determinar para que lado sopram os ventos... É um escárnio. Foi ele quem acabou emprestando à crise uma retórica sindical. O controle hoje é militar. Passará a ser civil? Que se debata. Não há nisso pecado mortal — embora eu seja contra criar o CUTA — Céu Único dos Trabalhadores Aviadores. Detestaria ficar na mão desses caras. O fato é: o debate, agora, é extemporâneo e só serve para sobrepor uma crise à outra.
Já basta o carnaval patriótico que se tentou criar com os dois pilotos americanos. Tudo leva a crer que cometeram os seus erros. Mas tentaram, sim, sem sucesso, falar com o controle aéreo a tempo de evitar a tragédia. E não conseguiram. Pires se transforma num símbolo do governo Lula, com desafios que estão literalmente muito acima da altura que ele consegue atingir.
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