Bush, a biotecnologia e o etanol brasileiro
Décio Luiz Gazzoni
Acredita-se que a visita do presidente dos Estados Unidos George W. Bush, teoricamente motivada pelo interesse na discussão do etanol, seja o sinal definitivo para o progresso do País. Mas muito antes de resolvermos questões de relações exteriores - como a abertura de mercado para o álcool brasileiro e a sobretaxação aos produtos agrícolas - precisamos enxergar melhor nossos problemas internos.
Se não dissolvermos o obscurantismo científico e não investirmos adequadamente em inovações tecnológicas, principalmente na biotecnologia, condenaremos mais uma geração a ouvir o batido discurso de que o Brasil é o país do futuro.
Na produção de etanol a partir de cana-de-açúcar, com as ferramentas da biotecnologia, o Brasil é o país mais competitivo do planeta, com os americanos ameaçando nossa hegemonia ancorados em bilhões de dólares de subsídios ao milho. Porém, tudo pode mudar em um futuro muito mais próximo do que se imagina, como bem alertaram o ex-ministro Roberto Rodrigues e o Premio Nobel de Química, Allan McDiarmid, em evento realizado em Brasília, no final de 2005.
O presidente Bush resolveu investir fortemente em produtos energéticos da biomassa e seu governo não ficou apenas no discurso, abriu as burras do Tesouro americano para financiar as inovações tecnológicas. Para ilustrar, quero citar o documento "Breaking the biological barriers to cellulosic ethanol - a Research Agenda". Trata-se de um relatório oficial do governo norte-americano, que traça um caminho para a obtenção de bactérias que produzam etanol a partir de celulose.
Por que os Estados Unidos perseguem este objetivo? Porque produzir celulose é muito mais barato que produzir açúcares ou amido. Quem dominar esta tecnologia, dominará a produção de etanol no mundo.
Já existem bactérias geneticamente modificadas (Escherichia coli, Klebsiella oxytoca e Zymomonas mobilis) que receberam genes de outros organismos, tornando-as capazes de produzir etanol a partir de polissacarídeos, com alta produtividade, sendo tolerantes à concentração de etanol no ambiente.
Além disso, elas são resistentes às substâncias inibidoras presentes na biomassa, suportando acidez e alta temperatura. Desta forma, produz-se etanol de celulose a custos muito mais baixos, o que coloca em xeque um dos mais fulgurantes segmentos do agronegócio brasileiro, que é a cadeia do açúcar e do álcool.
Estamos definitivamente perdidos? Não, em absoluto. Precisamos trilhar o mesmo caminho dos cientistas norte-americanos, investindo pesadamente em técnicas biotecnológicas para aumentar a produtividade da cana e seu teor de sacarose, maximizar a eficiência do processo fermentativo, obtendo bactérias com genes exógenos que produzam álcool a partir do bagaço e da palhada de cana, bem como de qualquer outro material celulósico. Sem isso, entraremos no desvio da História e a promissora indústria de etanol será apenas um case do passado.
Lembremo-nos de que o mundo produz, anualmente, 1,5 quadrilhão de toneladas de celulose. De cada tonelada de celulose pura é possível extrair 630 litros de etanol. Considerando que 1,5 bilhão de toneladas de álcool equivale (em poder calorífico) ao consumo mundial de gasolina, estimado em 1 bilhão de toneladas, conclui-se que, com apenas 0,0001% da celulose produzida todos os anos, é possível substituir a gasolina consumida no mundo.
É um negócio muito auspicioso para nos darmos ao luxo de perdermos o desenvolvimento, os empregos e a renda a ele associados.
Os cientistas norte-americanos já estão criando células de combustível microbiano. É isso mesmo, uma cultura de bactérias sobre um meio de biomassa que produz energia elétrica, um processo exclusivamente biotecnológico de produção de energia. A técnica está disponível nas bancadas dos laboratórios, em fase de melhoramento.
Um dos aprimoramentos é a maximização da eficiência das reações bioquímicas que geram energia elétrica, por meio da engenharia genética. Os cientistas também acreditam que as algas serão a matéria-prima do futuro para a produção de biodiesel, deixando soja e canola a ver navios.
Uma vez mais, para obter um processo competitivo e sustentável, técnicas de engenharia genética estão sendo utilizadas.
Portanto, para evitar que o Brasil continue sendo o eterno país de um futuro que nunca chega, não temos outra alternativa a não ser investir em ciência e tecnologia, lançando mão das mais modernas ferramentas disponíveis, como a biotecnologia.
Décio Luiz Gazzoni é engenheiro agrônomo membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB)
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Enquanto esse governo fica enganando a Nação com o fenômeno do biudisu, de produção insuficiente e cara, estamos em vias de perder o bonde da história, como perdemos na produção da borracha, do café, e do extenso e desavergonhado contrabando de minérios raros. Da mesma forma como liquidamos com a nossa Marinha Mercante. Nossos usineiros gostam do lucro fácil e rápido. Plantar cana e especular entre álcool e açúcar é coisa do século passado. E usar navios de outras bandeiras para exportar produtos brasileiros é ato de pura e estúpida cegueira. É dar as costas ao País. Enquanto os Estados Unidos pensam no que vão ser daqui a cinquenta anos, nós ficamos pensando no Carnaval do ano passado. O recado foi dado. Cabe aos brasileiros entenderem. Percival A Costa Apesar dos pesares, ainda um brasileiro. |
Quando se houverem acabado os soldados do mundo - quando reinar a paz absoluta - que fiquem pelo menos os fuzileiros, como exemplo de tudo de belo e fascinante que eles foram." - Rachel de Queiroz
ACORDA BRASIL...
QUE DEUS NOS ABENÇOE
E PROTEJA...
E NOS PERDOE SE TE
TRAIRMOS...
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