De olho no futuro
(Publicado na Tribuna da Imprensa de 28/03/07)
Paulo Metri
Artigos sobre 1964 e os anos seguintes, publicados hoje, só debatem culpas e servem para descarregar ódios, sem querermos desmerecer dores alheias. Dessa época, ficam na nossa memória os mortos, as famílias sofridas, o lamentável fracasso da atividade política, a falta de grandeza de espírito de algumas lideranças, a exacerbação da discussão, uma sociedade profundamente dividida e, por fim, a perda de esforço e tempo de tantos. Arriscaria dizer que esta divisão ajudou nosso atraso. Se, no passado, tivéssemos conseguido identificar quão inoportuno era o acirramento de ânimos de ambos os lados, teríamos poupado sofrimento e poderíamos ter crescido mais como sociedade.
Notar que não sou adepto de nenhum pensamento único, não estou negando que existam lutas de classes, não acho que os termos esquerda e direita estejam fora de moda, no entanto, há possibilidade de convivência de todos e de acordos entre os diversos grupos da sociedade serem cumpridos para ela poder avançar.
Além destes acordos, a sociedade brasileira precisa identificar, na busca por um verdadeiro progresso, seu inimigo de peso, que pode não estar nem à direita nem à esquerda e se esconder em ideologia alienígena, que nos coloca como subordinados a seus interesses, em detrimento de nos satisfazermos. O liberalismo econômico exacerbado e a globalização somente financeira e do nosso mercado compõem o arcabouço ideológico atual que traz a desnacionalização das nossas indústrias, as privatizações descontroladas, a falência da empresa nacional, o desemprego dos nossos trabalhadores, a gigantesca remessa de juros pagos por papéis do governo e de outros lucros obtidos no nosso mercado, a exaustão de nossas reservas minerais e a diminuição das nossas atividades de desenvolvimento tecnológico.
Combatendo o inimigo certo, pode-se prever que, além das condições sociais melhorarem, a segurança do cidadão estará, naturalmente, em nível mais aceitável, pois alguns dos seus fatores indutores terão sido eliminados. Assim, não podemos jogar de novo a energia de uma geração no lixo e, por isso, a identificação dos verdadeiros inimigos da nossa sociedade e das batalhas a serem travadas é muito importante. Quem traz o tema “comunismo versus capitalismo”, hoje, queira ou não, está tirando o foco da luta necessária e dividindo nossa sociedade, permitindo o inimigo externo desembarcar, aqui, com facilidade. Andar para frente requer olhar para frente e quem anda olhando para trás tropeça.
Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia.
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