Governar é divertir-se
Por Villas-bôas Corrêa, no Jornal do Brasil
Nos quatro meses do segundo mandato, do governo, que não começou, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva forneceu mais elementos, para a
decifração da sua personalidade - que não chega a ser tão complicada -
do que nos quatro anos iniciais, embalados pelos elogios, em boca
própria, ao maior, em tudo, de todos os tempos.
Nas picuinhas, ao antecessor, que jogou, nos seus ombros, a tal herança
maldita, misturou viagens, pelos quatro cantos do planeta, para a
afirmação de uma liderança mundial, de que tanto se orgulha. O modelito
inaugural, do seu gabinete, no Palácio do Planalto, só cuidou de
política, para a montagem do esquema da reeleição. Descuidos,
intencionais ou não, fecharam os olhos, para os desatinos petistas, na
armação da temporada dos escândalos: do caixa 2, do mensalão, das
ambulâncias superfaturadas, da trapaça das sanguessugas, ampliados pela
maciça cobertura, pela mídia, das CPI,s que desandaram na dança, do
plenário da Câmara, para comemorar a absolvição, em cascata, dos
denunciados.
Lula abandonou o PT, às merecidas traças, adubou a reeleição, com os 11
milhões de Bolsa Família, para matar a fome de 44 milhões de eleitores,
especialmente, nas áreas mais pobres, do Norte e do Nordeste.
Quando o núcleo político, bichado pelos escândalos, foi dissolvido, o
presidente-candidato, em estalo afortunado, descobriu a fórmula perfeita
do gabinete administrativo, que confiou à competência e energia da
ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil. Livre da papelada
burocrática, que, jamais, leu, contentando-se com os resumos, em meia
folha de papel, pôde dedicar-se, em tempo integral, à campanha, nas suas
diversas etapas.
E, desde então, o estilo Lula de governar ampliou o esboço, até o
retrato, em corpo inteiro, com a transparência das suas singularidades.
Da casmurrice das frases curtas, do presidente Dutra, à variedade dos
cinco generais-presidente, do rodízio de quase 21 anos da ditadura
militar, passando por JK, Jânio, Jango, Sarney, Collor, Itamar e FH,
nada pode ser comparado, ao presidente Lula do bis.
Joalheiro amador, aplicou-se em enfeitar a faixa presidencial, com as
pedras coloridas da fantasia, para a festa do governo, desfrutado como
uma diversão. Lula adora presidir reuniões, com grande número de
participantes, que ocupem todas as cadeiras, das mesas imponentes, dos
palácios do Planalto e da Alvorada ou das aperturas da Granja do Torto.
Como não pode convocar governadores, prefeitos ou ministro, todos os
dias, conforma-se com a modéstia de encontros, com os chamados núcleos
de ministros, para assuntos que interessam o público, com a garantia de
ampla cobertura na mídia.
Mas o recheio doce, do mandato, são as viagens. Qualquer uma, para
qualquer lugar, com qualquer justificativa. Claro, as rotas
internacionais, para a exibição, nos palcos do mundo, são manjares para
o paladar dos deuses, que voam nas asas do Aerolula, com a pompa e os
agrados das mordomias. Reconheça-se que os giros, patrocinados pelo
Mercosul, pelo mapa do nosso continente, quase que se igualam, ao
deslumbramento da Europa, da Ásia ou da África. Lula é um temperamento
eclético.
Nunca pareceu mais feliz e à vontade, como no segundo mandato, sem a
tentação de brincar, com a democracia, para mais quatro anos. Se cair no
colo, claro, que não recusará o sacrifício.
Por enquanto, pretende curtir os três anos e 10 meses, no ritmo de
festa, concentrando os esforços oficiais, em três ou quatro programas,
que iluminem a imagem do grande presidente, o maior de todos os tempos.
Além do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mesinha milagrosa,
para a cura de todas as enfermidades do país; três ou quatro obras de
truz, como a irrigação de áreas do Nordeste, com a transposição das
águas do Rio São Francisco. E, um degrau abaixo, o pacote de emergência,
para o investimento de mais R$ 8 bilhões, na educação.
A rede rodoviária em pandarecos, com recorde de desastres, ou a
calamidade nacional da insegurança, com o registro de mortes, diárias,
no Rio e nas grandes cidades, são assuntos para a pauta da burocracia,
dos governadores e prefeitos.
Poupem Lula: o governo é uma festa.
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