Valor Econômico
30/03/2007 10:07
BRASÍLIA - Ao dar posse ontem a cinco ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, de forma enfática, a criação de uma nova rede de televisão estatal, voltada para a educação e sem preocupação com níveis de audiência. Lula disse que " sonha " também em criar uma " rádio nacional " . Num discurso de improviso que durou 40 minutos, o presidente confirmou que o governo estuda mudanças nas regras de aposentadoria do INSS e que essa foi a principal razão para o Ministério da Previdência Social não ter ficado nas mãos do PDT.
Até a noite de terça-feira, o presidente do PDT, Carlos Lupi, seria o novo ministro da Previdência. Somente na manhã de ontem, pouco antes da posse, Lula confirmou Lupi no Trabalho, sob os protestos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e deslocou o ex-titular, Luiz Marinho, para a Previdência.
" Por que eu fiz isso? " , indagou Lula na cerimônia de posse. " Primeiro, porque conheço o pensamento do PDT. Segundo, porque era complicado colocar um companheiro para fazer uma determinada política na Previdência que você sabe que para o seu partido é quase uma questão de fé. Certamente, ele teria dificuldades em alguns temas que vamos ter que discutir na Previdência. "
O presidente reafirmou que não reconhece como déficit o rombo de R$ 47 bilhões, estimado para este ano, nas contas do INSS. Disse que o que se chama de déficit é resultado de políticas sociais instituídas pela Constituição de 88. Em seguida, reconheceu que, se não é da Previdência, o déficit é do Tesouro: " É nosso, é do Brasil. Portanto, temos que cuidar disso com carinho especial " .
Lula assegurou que as mudanças, em estudo no Fórum Nacional da Previdência Social, valerão para as futuras gerações. Preocupado em tirar das costas do governo o ônus de uma nova reforma, ele disse que a proposta não será do governo, mas da sociedade. E sustentou que o novo ministro, Luiz Marinho, a quem creditou a recuperação do valor do salário mínimo e as correções da tabela do Imposto de Renda, tem perfil para enfrentar " coisas adversas " , numa referência à sua nova tarefa.
Pela primeira vez, o presidente falou em público sobre a TV estatal que pretende criar. Fez isso ao empossar o jornalista Franklin Martins no Ministério da Comunicação Social, recém-criado. Disse que pensa em fundar uma " TV pública educativa " para fazer o que " muitas vezes a televisão privada não faz " . Propalou a idéia de que a nova TV não quer competir com os canais privados e de que seu jornalismo não será " chapa branca " . " Chapa branca parece bom, mas enche o saco. Gente puxando o saco não dá certo " , disse Lula. " Não vamos inventar a roda. Se (a nova TV) vai ter meio ponto de audiência ou zero não me interessa. "
Ao se despedir de Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Lula fez uma exaltação do fato de o Brasil ter acumulado quase US$ 110 bilhões em reservas cambias. Sem mencionar os custos de manutenção dessas reservas - R$ 16,9 bilhões em 2006 e R$ 33,4 bilhões no ano anterior -, o presidente afirmou que os recursos dão " credibilidade " ao país: " Não tem nada que dê mais garantia a um país do que um montante de reservas como esse que conseguimos acumular. Se Deus quiser, vamos acumulando, dinheiro no bolso não faz mal a ninguém " .
Além de Franklin Martins, Carlos Lupi e Luiz Marinho, Lula empossou Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes e Miguel Jorge no Desenvolvimento. Ao apresentar Nascimento, fez referência velada às denúncias de irregularidade levantadas por uma revista contra o ministro. " Não se deixe abater nunca porque adversário é o que não falta, sobretudo agora que os Transportes têm muito dinheiro " , ironizou. Ao falar de Miguel Jorge, Lula lembrou que ele, a seu exemplo, não tem diploma universitário. " Somos três " , lembrou o presidente, referindo-se ao vice-presidente José Alencar.
Ontem, antes da cerimônia de posse dos novos ministros, Lula chamou Guilherme Cassel para uma conversa, na qual confirmou a sua permanência no Desenvolvimento Agrário. Ligado à Democracia Socialista, uma tendência de esquerda do PT, Cassel foi confirmado graças à indicação do ex-ministro Miguel Rossetto e ao apoio dos movimentos sociais. O mais cotado para assumir a função era o deputado Walter Pinheiro (BA), ex-líder do PT na Câmara e deputado mais votado do partido em todo o país.
Lula decidiu colocar Pinheiro na geladeira porque se ressente das críticas que ele fez no primeiro mandato. O deputado chegou a ameaçar deixar o PT para filiar-se ao P-Sol. Um ministro que conhece bem os humores de Lula acha que ele pode voltar atrás e nomear o deputado baiano para o Desenvolvimento Agrário. Se fizer isso, será apenas em meados do ano. " Até lá, o Walter vai ficar no sal " , diz esse ministro.
Nos próximos dias, o presidente ainda deverá criar a Secretaria Nacional dos Portos e nomear Pedro Britto, ex-ministro da Integração Nacional ligado ao deputado Ciro Gomes (PSB-CE), para comandá-la.
(Cristiano Romero e Paulo de Tarso Lyra | Valor Econômico)
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