Maior dinamismo econômico seria importante para efetivo aproveitamento da valorização do Real.
| Juros X Câmbio João Luiz Mauad | |||
16/03 - Ao invés de lamentada, deveria ser comemorada a valorização do Real e o conseqüente aumento da renda dos brasileiros, intensificando o comércio com o exterior, no lugar de enveredar pela política arcaica de estocar capital para aumentar as reservas internacionais e financiar o crescimento dos outros. |
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Como não interessa à esquerda discutir os reais motivos do pífio crescimento do país nos últimos anos, pois isto traria o debate para questões que são verdadeiros tabus para o neo-populismo esquerdista, como carga tributária, gastos públicos, intervencionismo, ambiente institucional, segurança jurídica, infra-estrutura, etc., desenvolveu-se no Brasil mais uma daquelas lendas quiméricas, cujo objetivo não é outro senão servir de bode expiatório para o mau desempenho econômico. Estou falando, evidentemente, da taxa de juros. Não da taxa de juros real, praticada pelo mercado, mas da taxa SELIC, determinada pelos arautos do neoliberalismo, como são pejorativamente chamados os integrantes do COPOM.
A mais recente atrocidade imputada a esse monstro de sete cabeças é ter derrubado a taxa de câmbio aqui em Pindorama, um golpe mortal para as nossas pouco competitivas e eternamente protegidas indústrias, agora obrigadas a competir com produtos estrangeiros.
Pouco importa aos embusteiros profissionais que os seus argumentos não possam ser provados por argumentos lógicos ou comprovados pelos dados empíricos disponíveis. A SELIC vem descendo ladeira abaixo, há dois anos, sem que tenha impedido a valorização concomitante do real? Ora, isto é apenas um mero detalhe sem importância, dizem eles. Afinal, para que servem os fatos, se eles não corroboram a versão que se deseja implantar, não é mesmo?
Segundo a lenda, digo, a teoria, os juros brasileiros, por serem muito convidativos, estariam atraindo um grande fluxo de investimentos financeiros para o país, contribuindo assim para a queda da taxa de câmbio. Seria uma bela teoria, não fosse o fato de que a realidade empírica fornece informações concretas que a desmentem por inteiro. Os dados do BACEN[*] sobre a movimentação de câmbio no país, por exemplo, deixam claro que o saldo das operações cambiais de natureza financeira – aquelas que sofrem influência direta da taxa de juros - tem sido negativo, há pelo menos quatro anos, com vendas (saída) bem superiores às compras (entrada).
Por outro lado, o mesmo levantamento demonstra que as operações de natureza comercial têm sido amplamente superavitárias. Só no ano passado, estas últimas apresentaram um saldo positivo de US$ 57,5 bilhões, enquanto as financeiras fecharam com déficit de US$ 20,3 bilhões. Ora, se o fluxo cambial de caráter financeiro mostra um movimento de saída bem superior ao de entrada, como poderia ele estar influenciando a apreciação do real? Definitivamente, não faz sentido. Isto é tão absurdo quanto dizer que uma hipotética desvalorização da nossa moeda pudesse ser conseqüência do saldo positivo da conta comercial. Não dá para levar a sério.
Aliás, a própria premissa de que a taxa de câmbio estaria defasada é tão falsa quanto uma nota de três reais. Eu gostaria muitíssimo de saber quem, afinal, define se o câmbio (flutuante) está alto ou baixo: você, estimado leitor, a FIESP, o IBGE, Papai Noel? Ouço dia e noite essa conversinha fiada, mas não vejo mudança significativa no saldo comercial. Dirão alguns: mas ele só não caiu ainda porque os preços de alguns produtos estão altos. E daí? Respondo eu. Mais uma razão para deixar o câmbio flutuar em paz, afinal, uma mão lava a outra e o nosso poder de compra em relação ao resto do mundo está crescendo.
Ao invés de lamentar, deveríamos, isto sim, comemorar a valorização da nossa moeda e o conseqüente aumento da renda dos brasileiros. Deveríamos intensificar nosso comércio com o exterior, no lugar de enveredar por essa política arcaica e extremamente anti-econômica de estocar capital para aumentar as famigeradas reservas internacionais e financiar o crescimento dos outros.
Não sei quanto a você, leitor, mas eu me recuso a aceitar essa lenga-lenga do câmbio valorizado só porque alguns "tubarões" da indústria tupiniquim que se acostumaram a lucrar, e muito, às custas dos favores dos governos (leia-se: contribuintes e consumidores), vivem choramingando as suas mágoas cambiais pelas redações dos jornais e telejornais.
É sempre bom a gente lembrar também, especialmente àqueles que insistem em querer baixar a taxa de juros na base da "martelada", alegando que a inflação estaria sob controle, que este não é o único fator determinante na decisão do BC sobre a taxa Selic. Além dela, a Autoridade Monetária precisa estar atenta à administração e rolagem da dívida pública, cujo volume, por si só, exige enorme atenção.
Não nos esqueçamos de que o devedor tem uma história de calotes no passado, além de ser um gastador compulsivo que recusa-se a economizar. Em outras palavras, trata-se de um devedor que, malgrado detenha um passivo formidável, está longe de demonstrar capacidade, ou mesmo vontade, de colocar a casa em ordem. (E, por favor, não me venham falar de "superávit primário". Isto é puro eufemismo, já que, o que vale é a conta inteira, inclusive os juros, e aí o governo é deficitário em +/- 3% do PIB).
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