Sem uma teoria do poder, oposições perderão em 2010 também!
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Por Reinaldo Azevedo (*) Os tucanos perderam, em 2006, uma eleição presidencial que estava no papo. Se o PT tivesse lhes emprestado um roteiro de bobagens a fazer, não poderiam ter sido mais úteis a Lula. Se vocês quiserem, trato disso em outro post para não perder o foco deste. As eleições de 2002 começaram a ser perdidas em 2001, quando o então deputado Aécio Neves, liderando um bloco, decidiu disputar a Presidência da Câmara, embora a maior bancada fosse a do PFL. Ganhou. Fraturava-se o condomínio PSDB-PFL pelo qual FHC havia sido eleito e reeleito. É claro que muitas outras razões explicam as duas derrotas — e não tiro, com isso, o mérito funcional da estratégia petista nas duas disputas. Ocorre que, para disputar o poder e ganhar, é preciso saber para onde convergem as forças políticas; é preciso saber quais são os aliados preferenciais. O diabo é que o símbolo do PSDB, com raras exceções, deveria ser um pavão, não um tucano. Não. Não vou entrar na economia interna do partido e suas facções. Elas não me interessam. Vou falar um pouco de teoria do poder, que é coisa bem menos singela. Sim, é preciso ter uma caso se queira chegar lá. Boa (no sentido de “eficiente”) ou ruim, é preciso ter uma. Sem ela, amigo, você acaba como Fernando Collor de Mello: pegando o helicóptero para o retiro, e ninguém lhe dá nem tchauzinho. Quatorze anos depois, pode ensaiar um discurso revisionista idiota, ouvido por pares basbaques. Sabem o que mais me chateia? O meu “adversário ideológico”, como me definiu José Dirceu, sabe que eu estou certo. Dirceu tanto sabe que é um dos artífices da aliança, desta vez para valer, do PT com o PMDB. Ela está sendo muito útil para o presidente tocar este começo de segundo mandato, será fundamental ao longo destes quatro anos e sereá, sim, com Lula ou sem ele, uma força poderosa na disputa presidencial de 2010. Dirceu e o PT sabem com quem devem contar. Esquerdistas que são, julgam, claro, caminhar a favor da marcha da história, essas bobagens habituais. O fato é que aprenderam a ganhar eleições. E isso não deixa de ser um aspecto admirável. Mas e os adversários? Assim como o PSDB fez um esforço danado, em duas eleições sucessivas, para perder, é razoável temer que não economize esforços para repetir o feito em 2010, embora tenha, como se sabe, desde já, dois fortes candidatos: os governadores José Serra e Aécio Neves. Nem pense alto, leitor, que poderiam ser imbatíveis juntos. Isso é óbvio demais para a dialética um tanto perturbada que costuma caracterizar o PSDB. Uma pausa para voltar a este ponto. Nesta quarta, viram, oficializou-se a mudança do nome do PFL, que agora passa a ser DEM. Já escrevi a repito. Lamentei um tanto. Como indivíduo, tinha certa simpatia pelo PFL urbano, embora eu lastime que nem sempre ele tenha sido um bom porta-voz das causas liberais. Agora, sob o nome de Democratas, não sei bem o que será. Vi na tarde de ontem lideranças falando em “amassar barro”, em “aproximar-se do povo” etc e tal. Na pauta, o meio ambiente, o mundo do trabalho, o social e afins. Com efeito, fiquei esperando a hora em que votariam uma moção para Bush sair do Iraque. Pareciam mesmo os democratas. Americanos. Ok. Vai ver isso é natural no primeiro dia, quando se busca uma nova cara. Também o PSDB fala em se refundar, em ficar mais próximo do povo... Ando cá com a desconfiança de que há conservadores, alguns bons, achando que podem executar uma mímica do petismo. Não podem. O tempo dirá. Agora retomo. No dia em que o DEM é lançado, seu parceiro histórico — parceria retomada depois da derrota de 2002 em várias disputas —, em vez dos parabéns de praxe, lhe apronta uma falseta. O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), lançou o nome do ex-governador Geraldo Alckmin à Prefeitura de São Paulo, dizendo ser este um caminho natural. Sempre digo tudo, como sabem. Então digo: se Alckmin quiser mesmo ser o candidato do partido, ele será. A questão é saber: 1 – Convém lançar uma candidatura, ainda que pretensamente forte, se ela estiver descolada de uma teoria do poder? Adversários ideológicos inconciliáveis que somos, eu e Dirceu temos uma resposta claríssima para isso: NÃO! Mas é claro que o PSDB não precisa ouvir nem um nem outro; 2 – É hora de lançar, no começo de 2007, uma candidatura para fins de 2008 quando o prefeito da cidade em questão pertence ao partido em companhia do qual se disputou a presidência, o governo do Estado e a própria Prefeitura? Companhia desleal? De maneira nenhuma!; 3 – É prudente lançar um candidato sem nem mesmo ter a clareza do cenário político da cidade e do próprio país, uma vez que há uma possibilidade atgé razoável de haver uma reforma política? 4 – Gilberto Kassab, a maior liderança do DEM na cidade — no caso, o prefeito —, enfrenta um momento difícil no que respeita à popularidade. Isso não quer dizer que não anseie ou não possa recuperar-se e concorrer à reeleição. É leal lançar um candidato agora? 5 – Se não se quer falar de lealdade, falemos de pragmatismo: é prudente? Se o prefeito realmente se der mal, por motivos justos ou injustos — pessoalmente, acho que a avaliação que se faz dele é injusta (e não é a primeira vez que discordo do tal “povo”) —, será que o peso não recairá também sobre o PSDB? 6 – Mais do que prudente: é inteligente o PSDB entrar no que parece ser o anúncio da fritura de Kassab? Eu não creio que ele, pessoalmente, vá se esforçar menos ou mais a depender do que pensam os tucanos. Mas a Prefeitura é uma máquina gigantesca. É preciso que os escalões intermediários também não se dediquem a especulações precipitadas. Tasso cometeu um grande erro. Mais um. E eu reitero: Alckmin será candidato se quiser, sem que o ex-governador cearense entre na economia interna da política paulista e paulistana. Lembro que ele vem de um histórico recente de decisões desastradas em seu Estado. Numa entrevista ao programa Roda Viva, no fim do ano passado, deixou claro que pode apoiar a candidatura de Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência se esta for a vontade do Ceará. Ninguém lhe cobrou nada nem ele se desdisse. Não dou a menor bola para a guerra de facções do tucanato. Os pavões que se vierem. O que sei é que o partido continua a prescindir de juízo estratégico. E só me ocupo do partido porque é a maior força de oposição do país. Em princípio, cabe a ela dar o rumo e o ritmo da oposição ao governo Lula — e motivos não faltam — e se organizar para derrotar a frente PT-PMDB e agregados em 2010. Não fará isso sozinho. Ontem à noite, os tucanos se reuniram em Brasília num jantar em homenagem a Alckimin. Homenagem justa, sem dúvida. Embora os meus leitores sejam testemunhas do quanto ele me irritou durante a campanha. O auge foi aquela jaqueta cheia de símbolos de estatais. Se tivesse dito: “Sim, quero vender a Petrobras”, é possível que não tivesse perdido um miserável voto e, ao menos, teria deixado de coonestar a picaretagem petista-estatista. Faltava o quê no ano passado? Ela: a teoria do poder. O “lançamento” da candidatura de Aclkmin nesta quarta demonstra que estou certo. Por que não Tasso não sugeriu um nome para a Prefeitura de Fortaleza? Ao fazer o que fez, atuou para desestabilizar o centro de uma alternativa ao petismo (a união PSDB-DEM), com eventuais desdobramentos no próprio governo de São Paulo e no PSDB como um todo. A diferença entre o PT e o PSDB contemporâneos é que o partido de Lula entrega cinco ministérios ao PMDB e mais uma penca de estatais, enquanto o partido de Tasso se esforça para jogar fora o “seu” PMDB. É isso aí: sem teoria do poder em 2001, 2002, 2006, 2007 e, não é improvável, em 2008 e 2010 também. E isso pode lhe render, por que não?, uma nova derrota. Parece impossível? Tão impossível quanto parecia em 2005 a reeleição de Lula? Meus textos são minhas testemunhas. Eu tratava Lula como favorito no auge do mensalão. Porque percebia a leseira tucana. Foi a existência de uma teoria — FHC tinha — que garantiu a eleição de 1994 e a reeleição de 1998. Quem não se lembra dos próprios “progressistas” tucanos escandalizados com a aliança com o PFL, condição sem a qual o então ministro da Fazenda deixara claro: não disputaria nada? Saiu de 7% dos votos — Lula tinha folgada liderança — para vencer. O PT aprendeu o caminho das alianças. O PSDB esqueceu. E faz essas bobagens. Finalizo, que o texto já vai longe. Houvesse, vá lá, alguma outra força importante na política com a qual os tucanos pudessem compor, essa manifestação de arrogância, pautada por uma ridícula guerra interna de posições, poderia ser menos deletéria. Mas não há. O PMDB já amarrou o seu destino ao do PT. E assim vai até o fim do mandato de Lula. Democratas E o DEM? Começou bem? Nem rimou nem achou ainda a solução. Rodrigo Maia (RJ), novo presidente, tem muito a aprender. Segundo o preclaro, o “novo” partido nasce mais distante do PSDB. Afirmou ainda que foram os tucanos que “destruíram a candidatura de Roseana Sarney” em 2002. Não foi, não, deputado. Foi uma montanha de dinheiro, de origem desconhecida, encontrada na Lunus. Ademais, a atual líder do governo no Congresso talvez merecesse de Maia emoção mais contida. Até hoje não sei a origem de tanta grana viva. Maia deve saber. No meio da gritaria, Kassab manteve a calma. Chamou a união dos dois partidos de natural e lembrou que é muito cedo para debater candidaturas. Ufa! Nem pavão nem cobra. Nem a plumagem da arrogância nem a língua viperina. Tanto melhor. |
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