Avacalhar para Dominar
Por Maria Lúcia Barbosa
Da catapulta chegou-se ao manejo de botões que acionam bombas capazes de devastar grandes áreas e matar numerosas pessoas. E o que dizer dos armamentos atômicos, suficientes para conduzir o mundo ao Armagedon? Devem, pois, ser buscados novos conceitos de guerra e de geopolítica. De todo modo, nenhum exército, desde tempos imemoriais, pode sobreviver sem disciplina e hierarquia, sendo que na hierarquia está implícito o comando e na disciplina a obediência.
Outro aspecto é o que se refere aos paradoxos da democracia. Recorde-se que esse sistema de governo implica na ascensão ao poder através da via eleitoral, porém, por uma dessas perversões tão comuns às invenções humanas, vemos que a própria democracia permite, sem que seja dado um só tiro, que governos autoritários se instalem no poder através do voto popular. Uma vez lá, governam de forma ditatorial simulando agir democraticamente.
As armas desses governantes não são canhões nem metralhadoras, mas o populismo, a propaganda, a desmoralização das instituições e dos partidos políticos, a compra fácil de tudo e de todos, o que quer dizer, das consciências. Portanto, as ditaduras modernas se tornam mais persuasivas porque funcionam como simulacros canhestros da democracia.
Na América Latina, de histórico autoritário, vicejam falsas democracias. O desusado modelo cubano de revolução castrista foi substituído pelo esdrúxulo socialismo do século 21 do venezuelano Hugo Chávez. Depois de tentar chegar ao poder através de golpes de Estado, o coronel pára-quedista se elegeu investindo no paternalismo para os pobres, na ambição dos políticos, na ganância de parte da elite econômica.
Ele degradou o Legislativo e fez uma Constituição à sua imagem e semelhança. Dominou o Judiciário e fabricou sua própria justiça. Logrou colocar o Exército à sua disposição. Censurou os meios de comunicação e inventou sua mídia particular. Chávez fez seguidores, especialmente na Bolívia e no Peru. Está armado até os dentes e dispõe de grupos paramilitares na América Latina, como as Farc colombianas e o MST brasileiro. Provavelmente quer governar enquanto viver como um Fidel Castro montado no petróleo. Encantado com tal exemplo, o presidente Luiz Inácio disse que “Chávez esbanja democracia”.
No Brasil o PT, partido que durante muitos anos se dizia revolucionário e de esquerda, na quarta eleição alcançou o poder máximo da República através de seu eterno candidato, Luiz Inácio, sem dar um só tiro. E ainda bisou. Luiz Inácio e seu governo compraram grande parte dos congressistas e agora quase completaram o serviço, achincalhando desse modo um dos pilares da democracia. Dominaram o Judiciário através de sua instância mais alta, o STF. Vêm usando e abusando da propaganda e das paternais esmolas oficiais para os mais pobres. Aos ricos deram mais lucros. A nascente TV estatal dirigida pelo ex-guerrilheiro e agora ministro, Franklin Martins, objetiva o amordaçamento e a submissão da mídia, projeto já tentado e fracassado.
Quanto as FFAA, o recente motim dos sargentos controladores de vôo mostrou que também estão cooptadas. O sinal mais claro apareceu quando o Comandante da FAB, Juniti Saito, não pediu demissão ao ser humilhado pelo comandante-em-chefe Lula, quando este mandou suspender a ordem de prisão de 18 insurgentes. Note-se que a negociação com os sargentos controladores foi feita pelo ex-sindicalista e atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. A FAB abaixou a cabeça e não reclamou.
Quebrados o comando, a hierarquia, a disciplina, o que terá sobrado do Exército Brasileiro? A sensação é de que também essa instituição foi completamente desmoralizada e venceu a estratégia do PT: avacalhar para dominar. O senhor Luiz Inácio pode ficar lá o tempo que quiser. Nada nem ninguém vão impedi-lo. Sua incompetência será sempre louvada. Sua negligência aplaudida.
E mesmo que morram mais pessoas em acidentes aéreos ou de infarto nos aeroportos, passageiros em trânsito agredirão as companhias aéreas, porão a culpa dos atrasos dos vôos no cachorro que passeia na pista, mas poucos compreenderão que a responsabilidade última pelas tragédias e transtornos relativos ao espaço aéreo é do presidente da República. E pouquíssimos cobrarão dele essa responsabilidade. Como já disse alguém: “esse país não é sério”.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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