Ministério continua sem o BNDES
Luís Osvaldo Grossmann
Correio Braziliense
19/4/2007
Presidente Lula dá o comando do banco de fomento a Luciano Coutinho, ignorando indicação do ministro Miguel Jorge. Economista é bem aceito pelo setor produtivo e não sofre resistência do PMDB
A exemplo do que fez no primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encurtou as rédeas do Ministério do Desenvolvimento e não aceitou o nome preferido do novo titular da pasta, Miguel Jorge, para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco de fomento é subordinado ao ministério, mas Lula indicou ontem o economista Luciano Coutinho para o posto.
O presidente, por sinal, tenta há tempos levar Coutinho para o governo. Chegou a oferecer a ele o Ministério do Planejamento, mas o economista recusou. O nome também já fora lembrado para o próprio BNDES, mas acabou derrubado por disputas políticas. A posse, no entanto, ainda não tem data certa. Luciano Coutinho pediu alguns dias para se desvincular dos atuais compromissos e só então será marcada a troca de comando. Até lá, continua no cargo o atual presidente Demian Fiocca.
Miguel Jorge gostaria de ver no comando da instituição Gustavo Murgel, com quem trabalhou no banco Santander-Banespa. Ele ontem participou do encontro no Palácio do Planalto onde Lula convidou formalmente Luciano Coutinho para o cargo, mas não fez comentários públicos à indicação. No dia em que assumiu o Desenvolvimento, porém, chegou a dizer que o BNDES voltaria à alçada de sua pasta.
O fato é que desde o início do primeiro governo Lula a instituição se “desligou” do Ministério do Desenvolvimento — primeiro pelas desavenças entre o então ministro Luiz Fernando Furlan e o presidente do banco, Carlos Lessa. Depois, pela indicação de Guido Mantega, hoje ministro da Fazenda, para o posto. Demian Fiocca, atualmente no comando do BNDES, foi indicado por Mantega quando trocou a instituição pelo comando da economia.
Mantega, aliás, trabalhou pela continuidade de Fiocca no cargo. Daí ser cogitada a permanência dele no governo, provavelmente no próprio Ministério da Fazenda. Desde que assumiu o Ministério do Desenvolvimento, porém, Miguel Jorge já tinha como certa a substituição do executivo.
Influente
Mesmo antes de ocupar um lugar na administração, Luciano Coutinho tinha influência no governo. A lista de amigos inclui o ex-ministro José Dirceu, que conhece desde 1967, quando ambos eram militantes do movimento estudantil. Ele já foi chefe do chanceler Celso Amorim, professor do senador Aloizio Mercadante e sócio do secretário de Política Econômica, Bernard Appy. (leia abaixo)
Além de ser o nome preferido de Lula, a escolha também atende conveniências políticas. Amigo do senador José Sarney (PMDB-AP) — que quando ocupou à Presidência o colocou como secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia —, Coutinho é um nome que agrada ao PMDB. Além disso, embora não fosse a primeira escolha do ministro Miguel Jorge, não há resistências a seu nome.
A escolha, inclusive, foi elogiada ontem por representantes da indústria. O presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, “Coutinho reúne uma visão bastante realista dos desafios brasileiros, tem sólida experiência técnica e prática no mundo dos negócios, adquirida em anos de consultoria”.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, disse que Coutinho tem o perfil adequado para o posto. “Foi uma escolha extremamente feliz. Luciano Coutinho estará à frente do principal instrumento de política industrial no Brasil, sobretudo em um momento em que a economia brasileira se prepara para viver um círculo expansivo, com a melhoria das condições macroeconômicas”
De fato, com mais de R$ 60 bilhões disponíveis para desembolso anual, o BNDES é o principal financiador de investimentos no Brasil. Mas apesar de gradualmente vir ampliando os empréstimos, há cinco anos consecutivos a instituição não consegue desembolsar o limite máximo. Em 2006, o limite inicial foi estipulado em R$ 60,8 bilhões, mas mesmo com crescimento em relação ao ano anterior, os desembolsos ficaram em R$ 52,3 bilhões.
Ligação com José Dirceu
De perfil desenvolvimentista e intimamente ligado ao eixo de poder petista, o economista pernambucano Luciano Coutinho, 59 anos, ganhou muito espaço em Brasília com a chegada do presidente Lula ao poder. Muito ligado ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, no início do governo Coutinho chegou a ser convidado para ser ministro do Planejamento, mas declinou. A recusa em nada prejudicou sua atuação nos bastidores do poder. Ainda em 2003, atuou como consultor no malsucedido processo da fusão Varig-TAM. Tudo sob a bênção de Dirceu. Foi conselheiro do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e até hoje elabora boletins internos de conjuntura para o Planalto.
Além de Dirceu, de quem é amigo desde meados dos anos 60, Coutinho é muito ligado a Bernard Appy (secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda), de quem foi sócio em uma consultoria por quase 10 anos; ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim; e ao senador petista Aloizio Mercadante, de quem foi professor. Também é amigo íntimo do assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia. PhD em economia pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, Coutinho é há 20 anos professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O economista é sócio majoritário da consultoria LCA, que atende clientes de peso, como Companhia Vale do Rio Doce, Ambev e Braskem.
Embora alinhado com o Planalto, Luciano Coutinho integra o time dos críticos da atual política econômica. Para ele, os juros elevados fizeram com que o Brasil desperdiçasse a “chance de crescer”. Em entrevistas, afirmou que o presidente do BC, Henrique Meirelles, cometeu “barbeiragens” na condução da política econômica e se disse decepcionado com o governo petista, ao qual agora se integra.
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