Quem tem culpa tem medo!
Quem tem culpa tem medo! O presidente Lula da Silva sentiu a pressão da revolta militar e apelou a sua retórica de sindicalista de resultados para se transmutar de aliado dos sargentos controladores de vôo (na sexta-feira passada) para algoz deles (ontem, depois de um dia inteiro a porta fechadas). Assessores tentam demover Lula da idéia de usar hoje uma cadeia nacional de rádio e televisão para tentar limpar a barra de seu governo (que é o culpado por não investir no sucateado sistema de controle aéreo) e jogar toda a culpa nos militares da FAB que fizeram um motim ilegal e só não foram punidos por ordem expressa do presidente da República.
A mudança do discurso de Lula, agora contra os “irresponsáveis” controladores, foi provocada pela ameaça objetiva de ser denunciado, por crime de responsabilidade, no Supremo Tribunal Federal, por ter passado por cima da Constituição e ter quebrado a hierarquia militar, na sexta-feira, quando obrigou o comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Juniti Saito, a recuar da decisão de punir 18 amotinados. O pedido de processo contra Lula seria feito pelo Clube da Aeronáutica. O Brigadeiro Ivan Frota provou que Lula rasgou o artigo 142 da Carta magna e poderia ser punido por isso. O presidente do Clube Militar, General de Exército Gilberto Barbosa de Figueiredo lançou ontem uma nota de apoio à atitude de Frota.
Lula conseguiu a proeza de colocar contra si os comandantes militares e os sargentos da FAB. As reuniões de emergência não foram suficientes para aplacar a ira dos oficiais superiores. Eles não aceitaram o argumento de Lula, que alegou “ter sido traído”. O presidente tentou se defender argumentando que não teve saída a não ser negociar com lideranças dos sargentos para evitar o pior nos aeroportos: “Acho muito grave o que aconteceu, uma irresponsabilidade pessoas que têm funções que são consideradas essenciais e funções delicadas, porque estão lidando com milhares de passageiros sobrevoando o território nacional”.
Lula batraqueou que os controladores não entenderam que havia disposição do governo para resolver os problemas do setor aéreo. Queixou-se do fato de a categoria ter esperado que ele viajasse, em missão oficial, para deflagrar a greve. Por isso, Lula declarou ontem total apoio ao inquérito policial militar (IPM) aberto para investigar a rebelião. O governo achou melhor descumprir a garantia dada aos amotinados de que não seriam punidos. No futuro, o presidente poderá anistiá-los. Os sargentos promotores do motim de sexta-feira estão há três dias chefiando os próprios trabalhos e temem a represália dos superiores quando a poeira baixar.
Neste clima de caos institucional, pode aumentar o desgaste de Lula com os chefes militares. Os comandantes do Exército, Enzo Peri, e da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, temem que o movimento dos sargentos da FAB contaminem suas tropas. No Exército, já se fala em rebelião de taifeiros.
Os militares também estão contrariados porque o presidente insiste em assinar (provavelmente amanhã) a medida provisória que fará a desmilitarização do controle do tráfego aéreo. A MP criará 200 cargos e um plano de carreira, cujo salário inicial será negociado com a área econômica. Lula escalou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para discutir a MP com os controladores. Ele também terá de negociar com os policiais federais, que prometem uma greve, a partir de amanhã, paralisando o sistema de embarque de estrangeiros nos aeroportos do Brasil.
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